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Nota de pesar pela morte de Arnaldo Trindade, editor de música e fundador da orfeu

Janeiro 10, 2024

 

A Audiogest - Associação para a Gestão e Distribuição de Direitos manifesta publicamente o seu pesar pelo falecimento de Arnaldo Trindade, figura ímpar e incontornável da edição de música gravada em Portugal.

 

Fundador da editora discográfica Orfeu na década de 1950, Arnaldo Trindade marcou de forma indelével a indústria da edição musical, deixando um extenso catálogo de alguns dos principais músicos portugueses do século XX como José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Vitorino, Fausto, Sérgio Godinho, Pedro Caldeira Cabral, Paulo de Carvalho, José Niza, José Calvário, Conjunto António Mafra, Conjunto Maria Albertina, Quim Barreiros, Teresa Silva Carvalho  e José Cid.  

 

Também lhe é devida a publicação de canções que venceram o Festival da Canção, de muito folclore, de fado de Coimbra e de Lisboa e de registos pioneiros de poetas e prosadores portugueses como Miguel Torga, José Régio, Sophia de Mello Breyner, Eugénio de Andrade, Fernando Namora, Daniel Filipe, Aquilino Ribeiro, Jaime Cortesão e Ferreira de Castro e de declamadores como Eunice Muñoz e Mário Viegas.

 

Conhecido como um “empresário sem medo que assumia as suas escolhas programáticas”, como referiu Avelino Tavares, Arnaldo Trindade publicou diversos cantos de resistência que tiveram de ultrapassar a barreira da Censura. 

 

Na fase final da sua vida, dedicou-se à escrita, tendo publicado três livros de poesia: “Jogos de Xadrez e da Vida” (2013), “Commedia Dell’Arte” (2015) e “Nuvem sem água, chuva não chora” (2022).

 

Nascido no Porto em 1934, Arnaldo Trindade estudou no Liceu Alexandre Herculano, “um liceu muito especial que o viria a marcar pela qualidade dos professores”. Em conversa com David Ferreira no Programa A Contar da Antena 1, relembrou o professor de Português António Cobeira que foi próximo de poetas da Revista Literária “Orpheu” e que, no ano final do Liceu, levava os seus alunos a São João de Gatão para conhecerem Teixeira de Pascoais. Referia também o professor Óscar Lopes, que mais tarde o ajudou na escolha dos poetas e prosadores que viria a gravar.

 

Após a morte do pai, herdou a sua loja de eletrodomésticos com 19 anos, mas como confessou na referida entrevista, “os frigoríficos eram brancos e o entusiamo era por outras coisas”. Emocionado, ao ouvir a Tabacaria de Álvaro de Campos, percebeu que era bom não só ler a poesia, mas também ouvi-la e achou que havia necessidade de algo novo”, nascendo daí a sua paixão pelos discos.

Ficamos a dever à Orfeu discos decisivos como os de José Afonso, nomeadamente “Cantares do Andarilho” (1968), , "Traz outro amigo também" (1970), "Cantigas do Maio" (1971), "Eu vou ser como a toupeira" (1972), "Venham mais cinco" (1973) ou "Coro dos tribunais" (1974);  “Trova do Vento Que Passa” (1964), "O Canto e as Armas" (1969) e “Gente De Aqui E Agora” (1971), de Adriano Correia de Oliveira; “Fala do Homem Nascido” (1972), a poesia de António Gedeão musicada por José Niza, nas vozes de Carlos Mendes, Samuel, Duarte Mendes e Tonicha; "E Depois do Adeus" (1974), de Paulo de Carvalho; “Pr’ó Que Der E vier” (1974) e “Histórias de Viajeiros (1979) de Fausto; “Semear Salsa Ao Reguinho” (1975), de Vitorino; ”Pano Cru” (1978) e “Campolide” (1979), de Sérgio Godinho; ou "10.000 Anos Depois entre Vénus e Marte" (1978), de José Cid.

 Foi distinguido com a medalha municipal de mérito pela Câmara Municipal do Porto em 2012.

 

 

A Indústria da Edição Musical não esquecerá nunca o papel de ARNALDO TRINDADE. Todos somos devedores do seu pioneirismo e do seu papel na modernização da edição fonográfica em Portugal.

 

A Audiogest presta sentida homenagem à sua memória e apresenta as mais sentidas condolências à família.


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